terça-feira, novembro 27

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Esta casa, feita de segredos, mistério implacável, guarda memórias, em suas paredes largas, de um tempo onde a porcelana era de muito bom gosto e os assoalhos de alta qualidade, de boa madeira, capazes de refletir com destreza o brilho da manhã ao adentrar pelas janelas velhas. Sua imponência causa impacto, gera respeito e uma certa sensação de fanatismo por cada cômodo. Como se milhares de histórias envolvessem o lugar de uma só vez, recordando um passado onde sua amplitude era por muitos ocupada, bem cuidada, e, aos presentes dias, restaurada aos poucos por meio de uma concentração singular de energia, captada ali mesmo em seu interior.
Suas sacadas observam do alto o movimento das pessoas na rua, ouvem o barulho ocasionado pela modernização repentina, chora por ter se tornado única, uma raridade, onde outrora dividia sua autoridade com construções de mesmo gênero, contexto, donas de calçadas largas e canteiros por demais enfeitados. As deformações do “futuro” lhe afetaram com o passar dos anos. A “poeira” do asfalto a sufoca de forma covarde e pouco justificável. A essêcia, o cheiro, sensações do sempre, nunca a deixaram, estas, quando positivas, tendem a permancer no local por toda a eternidade. Seus segredos, nunca revelados, também não a abandonam, estedem-se a cada milímetro do “concreto” que é, a própria edificação, a casa, um sonho perdido à margem da utopia moderna.
A magia de sua existência, desde os áureos tempos de bondes e pharmácias, prolonga-se e determina seu eterno reinado. Nos dias de hoje, ofuscado, sendo impossível tentar compará-la com sua prórpia juventude. Bela, imortal, membro de uma corrente transcendente, ilimitada fonte de inspiração e berço de criações, frutos de seus “sopros de sabedoria”, absorvida ao longo de um centenário, fabuloso, magnífico, homérico, digno de palavras à altura de sua história, dez vezes dez, até mais, que glória!