sexta-feira, novembro 9

Soteropolitanidade

Ai que saudade da Bahia...

Faz um bom tempo que não publico nada a respeito de minhas intimidades, da minha vida em particular, mas, não consigo mais segurar, tenho que fazer um pequeno desabafo, sobre algo fantástico, algo de que todos gostariam de participar, um desabafo sobre a minha saudade, saudade da boa e velha Salvador.

Terra de sol, mar, pouca chuva, terra quente, abafada, terra que respira verão doze meses por ano, terra do carnaval, do axé, do cheiro, terra do acarajé e do bobó, dos meus reis e minhas rainhas, terra de negros, brancos e demais, terra abençoada por Deus, terra onde desejo findar minha vida, quiçá, um dia.

Sinto falta das manhãs onde encontrava irmãos e irmãs, num cursinho pré-vestibular, desses bem comuns, porém, baiano, e não há nada meus caros, nada que se possa comparar a um legítimo baiano. Primeiro porque o baiano se torna irmão (ou irmã) antes mesmo de se tornar amigo. Segundo, não existem preocupações em particular, existem preocupações grupais, eles nunca te deixam sozinho, seja num bom ou, principalmente, num péssimo momento. Terceiro, porque se existem pessoas capazes de levantar o seu astral e transformar completamente o seu dia, com certeza, estão lá, na Bahia.

Sinto falta dos fins de tarde em Itapuã, do sol que queima sem se fazer perceber em Stella Maris, dos passeios pelo Abaeté, pelos devaneios vários em Arembepe, saudade também das noites, que não terminavam, o céu, num tom azul escuro, não deixava nunca que o fim de noite caísse num escuro preto de imensidão supérflua, lá o céu é azul, não importa a que horas do dia ele seja admirado.

Me lembro de um dia, pouco antes de retornar a São Paulo, admito, estava eufórico por voltar pra “casa” (se é que se pode chamar São Paulo “carinhosamente” de casa), precisava resolver algumas coisas e, como disse, estava ansioso. Nesse dia, andando pela praia, debaixo de uma chuvinha fina que caía preguiçosamente, refleti, e muito, não sobre os meses que passara ali naquele paraíso, mas, especificamente sobre aquele momento. A chuva caía e eu andava cada vez mais para longe de casa, como se não houvesse problemas naquilo. Forçosamente, o céu desabou, do nada, e aí sim, pensei estar longe demais para voltar. Procurei um lugar pra me esconder, sem sucesso. Sem sucesso até aquele determinado momento, pois, inesperadamente, um senhor, bem velhinho, aparecera ao longe, acenando para que fosse em sua direção. Ao chegar, uma toalha. Não entendi nada. Nem precisava entender. É o exemplo máximo da compaixão, da benevolência daquele povo, realmente, abençoado na terra, na alma e no coração.

Quando voltarei pra lá? Tenho data já marcada para o reencontro, e admito não conseguir deixar de pensar nisso. Preciso apenas disso. Pisar naquele solo mais uma vez, sentar na beira da praia numa manhã ensolarada, andar ao pôr do sol, e quem sabe, aguardar, por mais uma demonstração de amizade, fraternidade que não falha, esperar por aquele senhorzinho e, quem sabe, por sua humilde toalha.