segunda-feira, fevereiro 25

675 - Ana Rosa

Logo após o término da aula, saí rumo ao ponto de ônibus, localizado duas quadras acima da faculdade. Passo apressado, sem titubear, em direção ao ponto, era certo que meu ônibus passaria por ali a qualquer instante. Chegando finalmente, no meu destino não tão longínquo, perguntei a um senhor se o ônibus para a minha estação já havia passado. Ele respondeu que não, criando em mim uma ligeira euforia. Bom, ele já deve estar próximo, pensei. Alguns minutos depois, nada dele passar, ouvi um comentário que me causou certa curiosidade.
- Toda vez é isso, chego aqui na hora certa, me apronto toda, saio correndo como uma louca varrida, para chegar aqui e ainda ter de suportar tamanha demora! É um absurdo!
Achei engraçado, e retruquei sem mais pesar, levando em conta o que tanto se ouve por aí, a respeito do sistema de transporte urbano de São Paulo.
- Como assim? Sem mais tardar ele passa!
Começamos então a conversar sobre o assunto. A velha senhora, decidida a enfiar na minha cabeça, a idéia de que o transporte metropolitano não funciona, falou durante uns dez minutos sem parar. Fiquei perplexo, acho que só a vi tragar algum ar para dentro de seus pulmões, umas três ou quatro vezes. Mas prossegui com o papo e falei por um breve instante, até que seu ônibus chegou e a vi subir num pulo só. Nem sequer se despediu.

No mesmo segundo, um rapaz, que estava ali do lado ouvindo nosso papo, recostou-se junto a um poste e puxou novamente o que estávamos conversando, a senhora e eu. Falou que era inconcebível uma situação dessas, ter de esperar durante quase uma hora pela condução. Eu, que havia chegado ali havia menos de vinte minutos, acenei de forma positiva com a cabeça, porém, ainda pensando estar diante de pessoas no auge de seu mau humor. Decidi então, não levar adiante aquele motivo de prosa. Aguardei mais algum tempo e logo vi uma moça, dessas bem bonitas, cheia de penduricalhos, sentar-se à beira da guia. Arfante, incrédula, parecia estar a ponto de explodir, o que me causou certa preocupação. Quase meia hora depois, de chegar ao local, comecei a ficar cansado, e então pensei ser realmente exaustiva essa espera. Fiquei vigiando por mais algum tempo, em vão.

Quarenta e cinco minutos depois de chegar ao ponto, e depois de ter visto pelo menos vinte ônibus, todos eles com destinos outros, que não o meu, lembrei da senhora, que me disse tanto, e do rapaz, que ainda estava ali do meu lado, a esperar. Refleti seriamente a respeito, e cheguei à conclusão de que se imagina, que o cidadão não tenha absolutamente mais nada a fazer. Como se fôssemos nascidos para esperar e esperar, aguardar, enquanto outros caminham em passos lentos.

Completando uma hora, dei um chute com toda força numa placa de sinalização. Pelo amor de Deus! Gritei por dentro. Olhei para o lado, e notei que meus companheiros, meus já amigos de infância, faziam coisas próximas às minhas. Uns roíam a unha, outros arrancavam cabelo, alguns – estes mais descontrolados – mordiam a si mesmos, como fazem os rottweillers. Já era meio-dia, e a fome os perturbava. Quando estava prestes a apelidar minha mochila de “Wilson” (o inesquecível personagem de Náufrago), vimos ao longe o tão esperado coletivo, se aproximar, devagar, devagarzinho. Ao abrir a porta, subimos todos, com aquela cara típica de brasileiros conformados que somos, sorrisão no rosto, arrumando o cabelo, dobrando a gola, “tá tudo bem, tá tudo tranquilo”.