domingo, fevereiro 24

Varanda

(ou Portal do Infinito)

O que uma varanda pode ter de tão especial? Primeiro. Uma pergunta dessa não deveria ser feita jamais! Porém, não teria como começar de outra forma. Nos dias solitários, imersos ante à imensidão desta cidade, me vejo cada vez mais apegado às coisas simples do meu dia-a-dia e aos mínimos detalhes do meu tão simples cotidiano. Simplicidade que sempre andou junto à perfeição, quando falamos de detalhes como este. Desta sacada, desta varanda, adentro um horizonte infinito, adentro a verdadeira imensidão, o celeste, e contemplo por meio dela à natureza que a mim se conecta por meio do tempo. Seja dia ou seja tarde ou seja noite, madrugada. Tenho em minha companhia, amigos quase inseparáveis. Sol ao alvorecer do dia, o crepúsculo e sua harmonia, fonte de tanta inspiração, o anoitecer, que traz consigo a Lua e as estrelas. Membros indispensáveis à minha sobrevivência, literalmente. Outras forças fazem parte dessa maravilha, melhor dizendo, dessa rotina. Abro minhas portas, as portas de minha varanda, quando acordo, e logo vejo galhos e folhas e flores acenando um entusiasmado "bom dia", e com um sorriso bobo no rosto (daqueles meio apaixonados, bochechas vermelhas) simplesmente retribuo. Respiro forte a brisa que adentra meu quarto, brisa que toma rapidamente o aposento, cobrindo-o com seu aroma natural. Suas portas fecham-se raramente. Não vejo sentido em proibir a entrada da luz, do vento, da brisa matutina, a entrada da chuva. Não se proíbe a natureza. Se proíbe o homem. E aí é que está o grande elo entre a minha pessoa, a varanda e o tão infinito horizonte, somos apenas nós. Daqui contemplo a tudo, e da mesma forma, sou contemplado. Quem dispõe de detalhes assim, nunca poderá se considerar sozinho. A natureza preenche de forma eficaz a falta física que outras pessoas podem causar. E durante a noite, após passar o dia todo a observá-la distante, sento então na minha sacada, olho para cima e logo apanho algum sonho perdido, a flutuar pelo imenso véu da criação, e o materializo, de qualquer forma, em papel.