O trem parte devagar
Rumo à outra extremidade
E ele vislumbra o seu chegar
Ao outro lado da cidade
O trem pára, a estação, vazia
Os vidros refletem as portas se abrindo
Ninguém entra, ninguém circula
Pelo trem, pela estação, por sua vida
Logo é tomado pelo sentir-se sozinho
Ao calar do fim de mais um dia
Ainda a percorrer as veias da cidade
Eternos desvarios em seu caminho
Por alguns momentos, companhia
Rostos desconhecidos, almas perdidas
Vagando assim como ele, e com ele
Breves, como tudo em que nele habita
Guardou papel e caneta na mochila
Seguiu pelas escadas até a saída
Sentiu a chuva tocar seus cabelos
E agradeceu, tingindo sua pele macia
O tingir, de um vermelho tão vivo
Como as luzes que cintilam em gotas
Caindo sobre seu ombro, e ele gosta
Sonhando com um possível descanso
Um sorriso, num simples instante
Onde a paz o adentrara sem pedir licença
Um simples sorriso naquele instante
Em que fora agraciado com alvas plumas
Girou o molho de chaves e entrou
Olhou as horas e percebeu o tempo
O girar eterno que o trouxera de volta
À sua morada, seus tijolos e sonetos
Desenhou seu dia em papel-toalha
Sentou-se à mesa e saboreou a noite
Ou o findar dela, outro findar de dia
E então, à madrugada pediu licença
A sua benção, e pôde assim se deitar
Mergulhar noutro deleite rumo à aurora
Atreito às mazelas do seu dia-a-dia
Outro trem, outra estação, outra poesia