segunda-feira, julho 7

Observação

Éramos quatro na mesma sala
Numa ala assim, carnavalesca
De uma “escola de samba”
Um tanto peculiar

Éramos quatro na mesma sala
Discutíamos o tal cotidiano
Algo de ética e moral
Falávamos do amor

Éramos quatro na mesma sala
Eu, o poeta, o músico, o ator
Levantando argumentos
Sobre tais objetos:

O amor era fruto de construção
Não havia, porém, andaime
Nem alicerce, nem tijolo
Nem mesmo concreto

O amor era fruto de construção
Não havia, porém, britadeira
Nem escavadeira, nem pá
Ou qualquer ferramenta

O amor era fruto de construção
Não havia, porém, arquiteto
Nem mesmo empreiteiros
Quanto mais os pedreiros

O amor era fruto de construção
Mas não havia sequer terreno
Não havia planta, nem projeto
Não havia nem maquete

Mas o amor.
Era incondicional.

A discussão logo foi interrompida.
E eu observei,


O músico a dedilhar.
O poeta a declamar.
O ator a gesticular.

Frases escritas.
Que diziam algo.

Notas dedilhadas.
Que diziam algo.

Gestos notáveis.
Que diziam algo.

E como observador, depois
De algum tempo, pude notar
Que o fruto de construção é
A própria arte de interpretar.

Dó, ré, mi, fá...

Ser ou não ser?
Eis a questão!

Corpo pra cá
Corpo pra lá...

E eu, somente
Como observador
Pude então sentir

Diferentes formas
De se construir, o
Tal do verbo amar.