Éramos quatro na mesma sala
Numa ala assim, carnavalesca
De uma “escola de samba”
Um tanto peculiar
Éramos quatro na mesma sala
Discutíamos o tal cotidiano
Algo de ética e moral
Falávamos do amor
Éramos quatro na mesma sala
Eu, o poeta, o músico, o ator
Levantando argumentos
Sobre tais objetos:
O amor era fruto de construção
Não havia, porém, andaime
Nem alicerce, nem tijolo
Nem mesmo concreto
O amor era fruto de construção
Não havia, porém, britadeira
Nem escavadeira, nem pá
Ou qualquer ferramenta
O amor era fruto de construção
Não havia, porém, arquiteto
Nem mesmo empreiteiros
Quanto mais os pedreiros
O amor era fruto de construção
Mas não havia sequer terreno
Não havia planta, nem projeto
Não havia nem maquete
Mas o amor.
Era incondicional.
A discussão logo foi interrompida.
E eu observei,
O músico a dedilhar.
O poeta a declamar.
O ator a gesticular.
Frases escritas.
Que diziam algo.
Notas dedilhadas.
Que diziam algo.
Gestos notáveis.
Que diziam algo.
E como observador, depois
De algum tempo, pude notar
Que o fruto de construção é
A própria arte de interpretar.
Dó, ré, mi, fá...
Ser ou não ser?
Eis a questão!
Corpo pra cá
Corpo pra lá...
E eu, somente
Como observador
Pude então sentir
Diferentes formas
De se construir, o
Tal do verbo amar.