Hoje percebo que muito é em vão
Tudo surge de um forma louca
Muitos sorrisos, muitos amigos
E de certa forma, vêm e se vão
Alguns ficam para trás, outros não
Alguns aparecem e já partem
Outros chegam, porém atrasados
Mas são sempre esses que sempre estão
Sempre estão, quando deles precisamos
Para ouvir algumas boas palavras
Palavras deles, claro, que escutamos
Sejam estas, tolas, nuas, cruas ou não
E por mais difícil que seja a distância
Obstáculo vivo, portanto, supérfluo
Nos remete ao saudosismo de infância
Quanto à incapacidade de superar a morte
Porém, se ter amigos, é ter sorte
Me encontro em favorável situação
Pois de alguns deles sei que sou irmão
E ser irmão, é ser sempre, se houver tal morte
Mas destes irmãos, que tanto prezo
Nenhum tenho agora a minha volta
O que faz ruir minha construção
Um reinado, principado, sem escolta
Essa falta dá lugar à vulnerabilidade
Fragilidade tanto assim por mim exposta
Como numa vernisage de paixões
Simples rascunhos de amor à mostra
Portanto, se algum amigo a isso ler
Que não leia como um comunicado
E não penses que espero respostas
Pois quem tem amigos sequer pergunta
Peço apenas que tomem-lhes como um pôster
Que não o colem na parede ou atrás da porta
Mas que guardem onde lhes servir, por opção
Numa gaveta, na mamória, num armário ou coração...