quarta-feira, janeiro 2

Meu Nome?

- Quem é você?
- Oras, você não sabe?
- Não, por isso lhe pergunto. Quem é você?
- Estou aqui pra lhe fazer sorrir.
- Ok. Um palhaço então.
- Pense de mim o que quiser, mas daqui não saio até ver você feliz.
- Tá, tá bom. O quê você quer? Dinheiro? É isso?
- O que eu venho lhe oferecer não pode simplesmente ser comprado.
- Está de brincadeira comigo não é?
- Não, te juro!
- Então me responda de uma vez! Quem é você?
- Sou o responsável pelo aquecer do seu corpo, pelo acelerar dos teus batimentos, pela tua insônia, pela tua ansiedade, pela tua estima, sou responsável pelo brilhar dos teus olhos, pelo frio na tua barriga, pelo roçar de teus cabelos, pelos teus impulsos e pela tua felicidade, onde o teu sorriso, é claro, se encaixa.
- Que absurdo! Ainda não me falou que você é!
- Não preciso dizer. Você apenas pode me sentir.
- Oras! Que tipo de ignorante você pensa que sou?
- Aquele, capaz de ignorar o céu e o sol, e a lua e as estrelas, a brisa e o calor que o Sol irradia às manhãs, inclusive, ignorante que és, mal sabe o que é uma bela manhã de Sol, ou o adormecer do mesmo atrás das montanhas, mal percebe o surgir da luz da Lua, o brilhar das estrelas.
- Que atrevimento o seu!
- Sou atrevido! Sim! Sou atirado e cara de pau se necessário, não tenho hora pra aparecer e quando apareço, faço exatamente isso, faço a tua cabeça girar, te deixo atordoado, te deixo irritado.
- E porquê resolveu aparecer agora? E porquê resolveu vir até mim?
- Venho lhe observando ultimamente e percebi que não lhe visito há algum tempo. Tempo suficiente para você me esquecer por completo. Por isso apareci assim, de surpresa, desta forma tão repentina.
- E quando foi que você fez essa outra visita? Não me lembro de tê-lo visto sequer uma vez.
- Como disse, você não me vê, você pode somente me sentir. Se me olhar com os olhos do teu coração, aí sim, poderá me enxergar, e olhar dentro dos meus olhos. Sobre a minha última visita, foi há muito tempo. Lembra-se daquele dia em que você comprou flores? E daquela vez em que saíste correndo pelas ruas a sorrir, como um bobo? Ou então, daquele dia em que passaste a noite em claro esperando um simples telefonema?
- Claro que me lembro!
- Faz um bom tempo não?
- Faz, faz um bom tempo. E confesso que sinto falta daqueles dias.
- É, é por isso que lhe faço essa visita agora.
- Ainda não consegui descobrir que você é. Nem o quê faz aqui.
- Você já disse à ela o que sente? Já buscou se aproximar?
- Ela? Ela quem? Como pode ser tão confuso!
- Sei que anda observando os passos dela. E respondendo à sua pergunta, aquela que você faz todas as noites antes de dormir, ela pensa em você, ela sabe que você existe e também lhe observa quando pode.
- De onde você a conhece? Como sabe que a venho observando?
- Pensas que é o único a me receber? Esse é o meu trabalho, meu propósito. Estou em todos os corações, adormecido em muitos, mas presente em todos, absolutamente. A visitei ainda hoje, um pouco mais cedo, conversamos bastante, e por isso estou contigo agora. Abra seus olhos garoto! Está diante de alguém que lhe quer bem! Deixe de ser medroso, vá logo falar com ela!
- Meu Deus! Responda-me logo, quem é você? Não entendo.
- Trabalho para uma força maior, denominada Amor, e meu nome é Paixão, basta?
- E desde quando você simplesmente aparece, e desanda a falar, como se fosse capaz?
- Como disse, estava adormecido, mas percebi a necessidade e pensei ser este o momento propício para me manifestar em ti. E quanto à minha voz, bom, é a tua voz. Esta conversa é entre você e seu pobre coração. Não tenho corpo, muito menos cordas vocais.

Confesso ter sentido um arrepio ao acordar, daquilo que, infelizmente, não posso descrever. Sei apenas, que me levantei, saí de casa e fui à procura daquela, que como ouvi em meus sonhos, tanto me quer bem. Ao encontrá-la, percebi que meu corpo estava sofrendo alterações bruscas, assim como fora detalhado em meus sonhos. Estava suando, meu peito parecia prestes a explodir. Olhei diretamente em seus olhos e, de uma forma absurda, como se nossos olhos fossem capaz de dizer tudo o que tinha para ser dito, porém, sem dizer absolutamente nada, a beijei. E ao sentir o calor de seus lábios, lembrei-me de meu sonho e por um momento, da última vez em que a Paixão havia me visitado. Percebi a falta que me fazia e então pude agradecer por ter se manifestado, num peito onde o Amor há tempos não dizia sequer uma palavra.