segunda-feira, janeiro 28

O Bobo, O Espelho e o Rei

Sentado junto ao espelho estava o Rei
Soluçando a perda de seu reflexo
Não mais podia se enxergar
No tal espelho

O espelho, nada podia fazer pelo Rei
Apenas observava o velho homem
Em lágrimas, desesperado
Amaldiçoado

Eis que então surge o Bobo da Corte
O homem mais desalmado do reino
Senhor da Utopia Desvairada
E logo começa a atormentar o Rei

O Rei, ainda estático, o observa
E lhe questiona, quanto a sua imagem

O Bobo, diz que sua imagem não importa
Que a ele basta a certeza do impacto

O Rei não entende
E o Bobo retruca

Não cabe a mim julgar minha própria imagem
Não somo dignos de julgamento, e imagem,
É coisa que não cabe ao próprio ato de julgar

E o Espelho, cansado
Diz algumas pequenas palavras

Meu Senhor, não se preocupe com seu reflexo!
Seu rosto há de aparecer, não faça julgamentos
Baseados no que podem pensar sobre você

Mas sim, no teu exercício, nos teus atos
Estes sim são dignos de tal estudo
Apenas eles podem ser perdoados
Não a sua tola imagem junto a mim

O Rei, perplexo, correu à janela
E ordenou que fossem tiradas as cordas
Do pescoço de seus capturados

Os erros alheios foram então perdoados
E então, aprendeu que o julgar existe
Dentro de contextos quase invisíveis

Voltou ao espelho e viu sua face
Olhou para o Bobo e sorriu em graça
A perceber que seu reino era uma farsa