sábado, fevereiro 9

Carta para Razão

Venho pensando em ti com certa frequência, nada o bastante para fazer-te se gabar por demais. Ao passo que aguardo por respostas suas às milhares de pedras que joguei ao mar. Nenhuma flutuou, nenhuma. Afundaram todas, assim como minhas esperanças e minha imensurável devoção. Meu pranto, agora contido, deu lugar à loucura, à insanidade, lapsos momentâneos de rebeldia e falta de tolerância. Prefiro que não perturbes mais meu sono, não apareças mais em meus sonhos. Seja você quem for, máscara! Não lhe reconheço, nunca lhe conheci direito. Reflexo estúpido da falta de benevolência com a própria imagem refletida. Espelho estúpido. De que serve todo esse materialismo supérfluo? Se as manhãs e as noites são obra da incessante força criativa, do incessante girar global. De que serve o teu saber? Se são sabedorias alheias, pensamentos de outros e outras idéias. Onde está a minha cruz? Por que não devolve minhas pedras tão brutas? Toda pergunta deveria conter uma resposta já embutida em seu contexto e essência. Mas no momento, dadas as ciscunstâncias, sou incapaz de compreendê-las e percebê-las. Lhe amo e lhe odeio de semelhante forma. Tão sutil e imprestável, de sua boca não ouço sequer um rosnar. Portanto, não venha enxugar meu pranto. Julgue-me como bem quiser, faça como bem quiser, queira bem ou não. Só não me venha querer ensinar como atirar minhas pedras.